Racismo no futebol – entenda todo o caso entre o Brusque e o jogador Celsinho que resultou em perda e recuperação de pontos na tabela

Na partida entre Brusque e Londrina, válida pela 21ª rodada do Campeonato Brasileiro da Série B, o jogador Celsinho, do Londrina, sofreu com ataques racistas após o fim da partida. O jogador foi chamado de “macaco” por Júlio Antônio Petermann, presidente do Conselho Deliberativo do clube adversário. Na súmula da partida, o árbitro Fábio Augusto […]
2021-11-26 17:39:00

Na partida entre Brusque e Londrina, válida pela 21ª rodada do Campeonato Brasileiro da Série B, o jogador Celsinho, do Londrina, sofreu com ataques racistas após o fim da partida. O jogador foi chamado de “macaco” por Júlio Antônio Petermann, presidente do Conselho Deliberativo do clube adversário.

Na súmula da partida, o árbitro Fábio Augusto Santos Sá relatou que ouviu a frase “vai cortar esse cabelo, seu cachopa de abelha”. No mesmo dia, o Londrina divulgou um vídeo nas redes sociais em que é possível ouvir o grito de “macaco”. A postagem foi uma resposta ao clube catarinense que, no primeiro momento, tentou se esquivar das acusações ao afirmar que o Celsinho estava inventando e sendo oportunista ao denunciar o crime.

Consequências

Após a postagem nas redes sociais do Tubarão, o Brusque se desculpou e adotou medidas imediatas, dentre eles o afastamento do presidente do Conselho do clube e a instalação de câmeras para captar o áudio das arquibancadas. As empresas “Barba de Respeito” e a “Embrast” suspenderam seus patrocínios com o clube.

O Brusque e o conselheiro responderam ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) por “ato discriminatório”, em julgamento realizado em 24 de setembro, e ambos foram punidos. O clube catarinense foi punido com a perda de 3 pontos na Série B e multa de R$ 60 mil. Já o dirigente foi suspenso por 360 dias de seu cargo e multado em R$ 30 mil.

Um mês depois, atletas e funcionários do Brusque divulgaram uma nota de protesto solicitando que a decisão fosse reconsiderada pela entidade jurídica. No documento, os jogadores disseram que o grupo é composto em sua maioria por atletas afrodescendentes, e que a decisão de retirar pontos na disputa da Série B penalizou o time e os atletas, que não foram responsáveis pelo ato.

Em 18 de novembro, então, o STJD decidiu pela devolução dos 3 pontos ao clube catarinense na tabela da Série B do Brasileirão. O Brusque, que luta contra o rebaixamento na competição, ganhou uma sobrevida e maior chance de permanência. A pena foi reduzida à perda um mando de campo em torneios nacionais e o pagamento da multa. A punição a Petermann (suspensão e multa) foi mantida.

Reação de Celsinho

Celsinho já havia sofrido com atos racistas em outras partidas da segunda divisão do Brasileirão. O meia do Londrina também ouviu ofensas nas partidas contra o Goiás e contra o Remo, ambas disputadas em julho.

O jogador de 33 anos, que está no clube paranaense desde 2020, se mostrou decepcionado com a diminuição da pena por parte do STJD ao Brusque: “o STJD tinha uma grande oportunidade de mudar tudo. De fazer algo bem positivo. Ficar bem-visto por todos e acabou dando um tiro no próprio pé. Ao invés de evoluir, eles retrocederam. Muito vergonhoso. Que grande decepção”, disse em entrevista para o GE.

Outros casos de racismo no futebol brasileiro nos últimos anos

Confira na lista abaixo outros casos de racismo em partidas válidas pelos torneios disputados no país e que foram praticados exclusivamente por torcedores ou jogadores brasileiros, assim como foi o “caso Londrina-Brusque”:

  • 2005: durante o clássico do Campeonato Mineiro entre Atlético e América, o jogador Wellington Paulo, do Coelho, fez ofensas racistas a André Luiz, do Galo. O atleta foi punido com a suspensão de 30 dias;
  • 2005: o goleiro Felipe, da Portuguesa, entrou com uma queixa contra o presidente do Vitória, Paulo Carneiro, acusando-o de xingá-lo com ofensas racistas após partida da Série B do Brasileirão. O dirigente foi afastado do cargo;
  • 2005: o Juventude foi punido com a perda de dois mandos de campo e multa de R$ 200 mil após alguns torcedores ofenderem o jogador Tinga, do Internacional, em partida do Brasileirão;
  • 2006: o zagueiro Antônio Carlos, então atleta do Juventude, fez ofensas racistas ao jogador Jeovânio, do Grêmio, em partida válida pelo Campeonato Gaúcho. A Federação Gaúcha de Futebol Antônio Carlos por 120 dias;
  • Durante o jogo entre Grêmio e Santos pela Copa do Brasil, o goleiro Aranha foi ofendido por torcedores do clube gaúcho. O STJD puniu o Grêmio com a exclusão do torneio e multa de R$ 54 mil.