O apito é delas! Número de mulheres na arbitragem do futebol masculino do Brasil cresce 400% em 10 anos

Apesar da difícil trajetória, arbitragem feminina garante, cada vez mais, o seu espaço no esporte
2021-11-07 08:20:12

A presença das mulheres no futebol vem crescendo significativamente nos últimos anos. Além de jogadoras e treinadoras, as funções de árbitra e auxiliar tem se tornado comuns nos jogos de futebol masculino. Esse ano foi prova disso: 2021 registrou o maior número de mulheres na Seleção Nacional de Árbitros (SENAF) de todos os tempos.

Nomes como Edina Alves e Neuza Back já se destacam no meio futebolístico. As duas fizeram história ao se tornarem as primeiras mulheres a fazer parte do trio de comando de uma partida oficial masculina da FIFA, no Mundial de Clubes de 2020, completado por uma auxiliar argentina. A dupla, agora junto com Ana Paula de Oliveira, também esteve na primeira equipe de arbitragem 100% feminina na história da Libertadores, no jogo entre Defensa y Justicia, da Argentina, contra o Independiente Del Valle, do Equador, realizado em maio desse ano.

Edina Alves foi considerada uma das melhores árbitras do Brasileirão de 2020. Sua presença constante nas partidas confirmou um aumento das escalas de árbitras e assistentes em competições profissionais masculinas. Se traçarmos uma comparação entre 2010 e 2020, o número de mulheres em partidas cresceu 400%: em 2010, foram 79 árbitras e assistentes escaladas, enquanto que, em 2020, foram 394 escalações.

Em estatística recente divulgada pela CBF, o Brasil tem, atualmente, o maior quadro internacional na FIFA de árbitras e assistentes, que conta com seis (6) mulheres em cada uma dessas funções. As árbitras são: Charly Wendy, Daiane Caroline Muniz, Deborah Correia, Edina Alves, Rejane Caetano e Thayslane de Melo. Já as assistentes são: Bárbara Loiola, Brigida Ferreira, Fabrini Bevilaqua, Fernanda Nândrea, Leila Naiara Moreira e Neuza Back. A última, inclusive, foi eleita a melhor auxiliar do Campeonato Brasileiro do ano passado.

“As árbitras, assistentes e árbitras de vídeo brasileiras conquistaram esse espaço com muito trabalho. O futuro só depende delas. Não existe limite para competência”

, declarou Leonardo Gaciba, chefe de arbitragem da CBF, em entrevista recente.

Arbitragem feminina sofreu discriminações

A discriminação fez parte – e, infelizmente, ainda faz – da trajetória das árbitras e assistentes no meio futebolístico masculino. As profissionais tiveram que passar por cima de preconceito para alcançar o sucesso dos dias de hoje. As ofensas vieram de todos os lados: torcedores, imprensa e profissionais do futebol.

Daniel Campelo, que fazia parte da equipe de comentaristas da Jovem Pan do Ceará, chegou a dizer em 2019 que achava que “mulher tem que tomar conta da casa, e do marido e dos filhos”. Ele foi demitido dias depois.

Em 2014, o então diretor de futebol do Cruzeiro, Alexandre Mattos, criticou a auxiliar Fernanda Colombo e acrescentou: “Vá posar para a Playboy, não trabalhar com futebol”. O dirigente disse que a bandeirinha não aguentava a pressão de atuar em jogos importantes, como partidas de times grandes e clássicos, e “aconselhou-a” a posar nua. Dias depois, ele se retratou ao dizer que a considerava uma das bandeirinhas mais promissoras do país.

Trajetória da arbitragem feminina no Brasil

O futebol é o esporte símbolo do Brasil. Mas, durante muito tempo, ele excluiu as mulheres – entre 1941 e 1983 -, por um decreto-lei que justificava a não participação delas em suas modalidades por suposta “incompatibilidade” do esporte às condições femininas. Mesmo assim, o país teve árbitras pioneiras (e guerreiras) que tentaram ocupar o seu espaço no esporte.

A primeira árbitra de futebol do mundo reconhecida pela FIFA foi a mineira Lea Campos, em 1971. Alguns anos antes, ela fez um curso na Federação Mineira de Futebol, mas teve o seu diploma bloqueado pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD). Ao ser convidada pela entidade máxima do futebol para trabalhar em um torneio mundial amistoso feminino no México, teve que pedir uma permissão para o então presidente do Brasil, General Médici, que solicitou, junto à CBD, que seu diploma fosse liberado. Assim, ela se tornou pioneira no exercício da arbitragem feminina.

A partir de 1983, quando as mulheres puderam voltar ao esporte, outras árbitras e auxiliares ocuparam, aos poucos, seus espaços. Em 1991, na primeira Copa do Mundo Feminina, a árbitra brasileira Cláudia Guedes se tornou a primeira mulher a apitar uma partida oficial em competições da FIFA.

Nas décadas de 2000 e 2010, as bandeirinhas Ana Paula Oliveira e Janette Arcanjo também se destacaram pela boa performance. A segunda, inclusive, foi chamada para trabalhar na Copa do Mundo Feminina de 2015. Em 2020, Neuza Back se tornou a primeira árbitra brasileira assistente em um jogo internacional fora do país, no jogo Peñarol e Vélez, pela Copa Sul-Americana, no Uruguai.

Edina Alves, que quebrou várias marcas, é hoje a maior imagem da arbitragem feminina no Brasil e no mundo. Ela lidera uma nova geração de árbitras que tem tudo para, enfim, se consolidar no esporte e comprovar a importância das mulheres no cenário mundial do futebol.